Choque e Reposição Volêmica

Pacientes adultos com SCQ > 20% apresentam aumento da permeabilidade capilar, causando hipovolemia. A reposição volêmica visa preservar a perfusão sistêmica utilizando o menor volume necessário, evitando reposição excessiva e sequelas. Assim, devem receber reposição volêmica com cristaloide, considerando-se a SCQ e o peso corporal. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016), como método de cálculo preconiza-se a utilização da fórmula de Parkland (Figura 8). (CHILE, 2016; ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016; KEARNS et al., 2016; YOSHINO et al., 2016)

Figura 8: Fórmula de Parkland.

Elaborada pela autora.

Via de acesso: dois acessos periféricos calibrosos (podem estar em área queimada no atendimento inicial).

Na impossibilidade de acesso venoso periférico, recomenda-se a utilização de acesso venoso central ou punção intraóssea, se disponível. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016; TEXAS EMS TRAUMA & ACUTE CARE FOUNDATION TRAUMA DIVISION, 2016)

A reposição volêmica deverá ser reajustada conforme a resposta do paciente. O controle da adequação da reposição volêmica será pelo débito urinário, obrigatoriamente por cateter vesical de demora em grandes queimados. Nas primeiras três horas o paciente pode estar em oligúria ou até anúria, independente da quantidade de volume administrado.

Débito urinário alvo

Adulto
0,3 a 0,5 ml/kg/h ou 30 a 50 ml/h em adultos
1 ml/kg/h ou 60 a 100 ml/h nos casos de queimadura elétrica

Criança
1 ml/kg/h

(EUROPEAN BURN ASSOCIATION, 2017; ISBI PRACTICE GUIDELINES FOR BURN CARE., 2016)

Algumas situações poderão exigir reposição em volume máximo e até maior que o calculado, casos em que se deve atentar para complicações da reposição excessiva ou fluid creep, como mostra a Figura 9. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016; LEGRAND et al., 2020)

Figura 9: Situações que podem exigir reposição máxima e complicações da reposição excessiva

Elaborada pela autora.

Reposição por Via Oral

Poderá ser alternativa na impossibilidade de acesso venoso, num equivalente a 15% do peso corporal em 24 horas por um período máximo de dois dias. Recomenda-se o acréscimo de 5 g de sal para cada litro de líquido ingerido. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).

Para pacientes com SCQ até 40%, pode-se associar hidratação por via oral, em volume equivalente a 15% do volume de reposição calculado. Esta hidratação deverá ser com fórmulas, preparações para este fim, já que água livre pode levar a hiponatremia em pacientes grandes queimados em fase de recuperação de choque hipovolêmico. (KEARNS et al., 2016).

Principais Cuidados de Enfermagem Sugeridos

Obter dois acessos venosos para reposição volêmica.

Controlar a reposta hemodinâmica por controle de diurese de hora em hora, tendo como alvo 30 a 50 ml/h em adultos, ou 60 a 100 ml/h nos casos de queimadura elétrica.

Atentar para sinais de choque hipovolêmico como exacerbação da taquicardia e hipotensão.

Controlar infusão endovenosa e hidratação via oral se indicada.

Controlar balanço-hídrico.

Referências

CHILE, Ministerio de Salud. Guías clínicas AUGE: gran quemado. Guías clínicas AUGE: gran quemado, [Santiago], p. 109–109, 2016.

EUROPEAN BURN ASSOCIATION (org.). European practice guidelines for burn care: Minimum level of burn care provision in Europe. [Barcelona]: European Burns Association, 2017. Disponível em: doi.org. Acesso em: 9 jun. 2020.

ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE. ISBI Practice Guidelines for Burn Care. Burns: Journal of the International Society for Burn Injuries, [Floresville], v. 42, n. 5, p. 953–1021, 2016. Disponível em: doi.org

KEARNS, Randy D. et al. Guidelines for Burn Care Under Austere Conditions: Introduction to Burn Disaster, Airway and Ventilator Management, and Fluid Resuscitation. Journal of Burn Care & Research, [Galveston], 2016. 5, p. e-427-39.

LEGRAND, Matthieu et al. Management of severe thermal burns in the acute phase in adults and children. Anaesthesia Critical Care & Pain Medicine, [S. l.], v. 39, n. 2, p. 253–267, 2020. Disponível em: doi.org

TEXAS EMS TRAUMA & ACUTE CARE FOUNDATION TRAUMA DIVISION. Burn Clinical Practice Guideline. Austin: [s. n.], 2016. E-book. Disponível em: tetaf.org. Acesso em: 14 jan. 2020.

YOSHINO, Yuichiro et al. The wound/burn guidelines – 6: Guidelines for the management of burns. The Journal of Dermatology, [Medford]], v. 43, n. 9, p. 989–1010, 2016. Disponível em: doi.org