Cuidados com a ferida

Limpeza da queimadura

Tem como objetivo principal a remoção de contaminantes, debris, corpos estranhos, microrganismos, esfacelos, exsudato, resquícios de coberturas (Figura 10). Além disso, deve promover higiene e conforto ao paciente. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).

A limpeza mecânica com irrigação está associada à diminuição da contagem de microrganismos no leito da ferida. É importante considerar que essa limpeza mecânica deverá ocorrer da forma mais suave possível, evitando trauma adicional à lesão.

As evidências não apontam diferenças de resultados com a utilização de água ou soro fisiológico.

(ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).

Figura 10: Queimadura por escaldamento, antes e após limpeza e remoção de pele desvitalizada.

Fonte: Bellio; Santos; Corrêa (2018, p. 193-194)

Uso de Antissépticos

Revisão sistemática pela Cochrane Database of Systematic Reviews aponta que não há evidências claras de benefícios quanto à epitelização ou infecção. (NORMAN et al., 2017).

Recomendação

Após a limpeza mecânica ou cirúrgica, a fim de evitar a passagem de bactérias para a corrente sanguínea ou para outras áreas com ruptura da integridade da pele. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).

Opções

Gluconato de clorexidina. (CANCIO et al., 2017a), solução Dakin ou ácido acético (ISBI, 2018).

Em relação às flictenas, a conduta ideal recomendada é o desbridamento e curativo com coberturas de ação prolongada. Não sendo possível a utilização dessas coberturas, não há evidências científicas que apoiem o desbridamento. Nesse caso, as condutas recomendadas são apontadas na Figura 11. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016; YASTI, 2015). A Figura 12 ilustra a aspiração do conteúdo da flictena.

Figura 11: Condutas recomendadas para o manejo de flictenas

Elaborada pela autora.

Figura 12: Ruptura e aspiração de flictenas.

Fonte: Bellio; Santos; Corrêa (2018, p.194)

Quanto ao curativo, além das conhecidas características do curativo ideal como promoção de ambiente úmido; permeabilidade ao oxigênio e vapor de água; controle da temperatura; impermeabilidade para microrganismos; ausência de partículas, contaminantes e microrganismos; alta capacidade de absorção; promoção de proteção mecânica; intervalo de troca prolongado; e disponibilidade em todos os serviços, os agentes tópicos e coberturas devem ter propriedades antimicrobianas (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).

O paciente queimado se encontra mais propenso à infecção devido à perda da barreira cutânea e à imunossupressão.

A infecção da ferida constitui preocupação por poder causar aprofundamento das lesões, retardo cicatricial, perda de enxerto e aumento do tempo de hospitalização. Ainda, a infecção invasiva da queimadura poderá causar sepse e morte. No entanto, antimicrobianos tópicos apresentam citotoxicidade para queratinócitos e fibroblastos, afetando o processo cicatricial.

Então, a escolha pelo tipo de agente microbiano e pela duração do tratamento deve avaliar os riscos de infecção da lesão e de retardo do processo cicatricial. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2018). As recomendações para curativo e cobertura estão descritas no Quadro 3.

Quadro 3: Recomendações de cobertura de acordo com profundidade da queimadura

Profundidade da QueimaduraCoberturas Recomendadas
Espessura SuperficialHidratar com creme hidratante ou óleos.

Não necessita coberturas ou curativo oclusivo.
Espessura Parcial SuperficialCurativo oclusivo (gazes, compressas ou apóstitos)

Gaze impregnada com óleos ou parafina, hidrocolóides, hidrogel, filme de poliuretano, espuma de poliuretano.

Hidrofibras ou outras coberturas com prata de ação prolongada de acordo com a disponibilidade e nível de exsudato.

Pomadas com antibiótico - mantêm meio úmido e têm ação antibacteriana limitada, podendo ser utilizadas em áreas menores de queimadura na face.
Espessura Parcial ProfundaCurativo oclusivo (gazes, compressas ou apósitos)

Sulfadiazina de Prata - deve ser descontinuada nas áreas em que se observe reepitelização.
Espessura TotalCurativo oclusivo (gazes, compressas ou apósitos)

Nitrato de cério associado a sulfadiazina de prata quando não houver possibilidade de desbridamento e cobertura precoce.

Fonte: Elaborada pela autora.

Principais Cuidados de Enfermagem Sugeridos

Realizar limpeza das queimaduras com água corrente ou soro fisiológico associado à clorexidina.

Desbridar flictenas e remover pele desvitalizada se for possível aplicar coberturas com ação prolongada. Caso contrário, romper apenas flictenas maiores, que restrinjam mobilidade ou dificultem a realização de curativo oclusivo, com aspiração do conteúdo e manutenção da pele como curativo biológico.

Realizar curativo oclusivo com cobertura conforme nível de exsudato, para evitar contaminação e controlar a perda de calor por evaporação.

Aplicar sulfadiazina de prata 1% em queimaduras de espessura parcial profunda ou outras coberturas com prata conforme disponibilidade.

Aplicar nitrato de cério associado a sulfadiazina de prata 1% (ou sulfadiazina de prata 1%,  conforme disponibilidade) em queimaduras de espessura total.

Referências

BELLIO, Huguette Renee Schwab; SANTOS, Fernanda Silva dos; CORRÊA, Cristina Rodrigues. Suplemento Fotográfico. In: BELLIO, Huguette Renee Schwab; SANTOS, Fernanda Silva dos; CORRÊA, Cristina Rodrigues (org.). Cuidados de Enfermagem ao Paciente Queimado. Porto Alegre: Moriá, 2018. p. 185–200.

CANCIO, Leopoldo C. et al. Guidelines for Burn Care Under Austere Conditions: Surgical and Nonsurgical Wound Management. Journal of Burn Care & Research, [Galveston], v. 38, n. 4, p. 203–214, 2017 a. Disponível em: doi.org

ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE. ISBI Practice Guidelines for Burn Care. Burns: Journal of the International Society for Burn Injuries, [Floresville], v. 42, n. 5, p. 953–1021, 2016. Disponível em: doi.org

ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE. ISBI Practice Guidelines for Burn Care, Part 2. Burns: Journal of the International Society for Burn Injuries, [Floresville], v. 44, n. 7, p. 1617–1706, 2018. Disponível em: doi.org

NORMAN, Gill et al. Antiseptics for burns. The Cochrane Database of Systematic Reviews, [S. l.], v. 2017, n. 7, 2017. Disponível em: doi.org. Acesso em: 20 maio. 2020.

YASTI, Ahmet Cınar et al. Guideline and Treatment Algorithm for Burn Injuries. Turkish Journal of Trauma and Emergency Surgery, [Istambul], 2015. Disponível em: doi.org. Acesso em: 9 maio. 2020.