O tratamento cirúrgico por desbridamento e autoenxerto é fundamental para a recuperação de pacientes com queimaduras profundas extensas. Quando precoce, na primeira semana ou no máximo dez dias após o trauma, está associado à redução do tempo de internação hospitalar, bem como a melhores resultados a longo prazo e custo-efetividade. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).
Indicação
Queimaduras de espessura parcial profunda ou espessura total, desde que o paciente esteja hemodinamicamente estável (exceto nos casos em que a lesão exija conduta imediata e seja o fator causador da instabilidade, como em casos de queimadura elétrica), devendo ser realizado em centro cirúrgico com a devida estrutura. (CHILE, 2016; ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).
Cirurgias raramente são realizadas nas primeiras 48 horas, especialmente se o paciente não estiver em centro especializado. (LEGRAND et al., 2020).
Ressalta-se que, quando constatada a indicação de tratamento cirúrgico, o paciente deve ser transferido para um centro de referência, onde a equipe responsável deve estabelecer um plano cirúrgico individualizado considerando o local, a extensão e a profundidade das lesões, o estado geral do paciente e os recursos disponíveis. (CANCIO et al., 2017a; ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).
Contudo, algumas recomendações são apontadas para casos em que se faz necessária a realização do tratamento cirúrgico em locais com recursos limitados.
Embora em centros de referência o desbridamento inicial, a escarotomia e a fasciotomia sejam realizados à beira do leito ou nas salas de hidroterapia, para locais com recursos limitados, recomenda-se realização em centro cirúrgico, local com estrutura e equipe mais adequados. (CANCIO et al., 2017a).
Decidindo-se pela realização do procedimento, a comunicação entre a equipe é fundamental, sendo sugerido um checklist (Figura 18). (CANCIO et al., 2017a). A conduta quanto a coberturas no pós-operatório está descrita no quadro 7. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016; PINHO et al., 2016).
Figura 18: Checklist para Procedimento Cirúrgico em Pacientes Queimados em Locais com Recursos Limitados.

Elaborada pela autora.
Quadro 7: Conduta quanto a curativo e coberturas no período pós-operatório para pacientes queimados.
Tipo de Lesão | Conduta no Pós-Operatório |
---|---|
Áreas desbridadas ainda com tecido necrótico | curativo oclusivo, curativo secundário absorvente com gazes ou compressas estéreis e ataduras. cobertura com prata (periodicidade de troca conforme cobertura primária) |
Área enxertada | curativo oclusivo até a integração do enxerto |
Área doadora | curativo oclusivo até epitelização ( aprox. 10 dias) cobertura com controle de exsudato para manutenção do meio úmido (filme de poliuretano, hidrocolóide). |
Fonte: elaborado pela autora
A estratégia conservadora, ou seja, a realização do enxerto após desprendimento espontâneo do tecido necrótico, pode ser vantajosa em locais com limitação de recursos. Nesse caso, a equipe multiprofissional deverá traçar um plano de cuidados que atente para a otimização do uso de coberturas, para o controle da dor, para o suporte nutricional e para a prevenção de contraturas. (ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2016).
Recomenda-se, também, vigilância para sinais de infecção local e perda de enxerto. Outros pontos importantes são a articulação com fisioterapia, com foco no posicionamento e uso de órteses ou splints e educação do paciente e familiar no processo de reabilitação. (CANCIO et al., 2017a).
Principais Cuidados de Enfermagem Sugeridos
Estabelecer o plano terapêutico com a equipe multiprofissional (a prioridade será a transferência para centro especializado).
Avaliar e organizar os recursos disponíveis, junto à equipe médica, mediante necessidade de tratamento cirúrgico em serviço não especializado.
Avaliar a evolução da área enxertada e da área doadora, atentando para sinais de infecção e perda de enxerto.
Articular estratégias de reabilitação com o fisioterapeuta.
Orientar o paciente e família quanto ao plano terapêutico.
Referências
CANCIO, Leopoldo C. et al. Guidelines for Burn Care Under Austere Conditions: Surgical and Nonsurgical Wound Management. Journal of Burn Care & Research, [Galveston], v. 38, n. 4, p. 203–214, 2017 a. Disponível em: doi.org
CHILE, Ministerio de Salud. Guías clínicas AUGE: gran quemado. Guías clínicas AUGE: gran quemado, [Santiago], p. 109–109, 2016
ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE. ISBI Practice Guidelines for Burn Care. Burns: Journal of the International Society for Burn Injuries, [Floresville], v. 42, n. 5, p. 953–1021, 2016. Disponível em: doi.org
LEGRAND, Matthieu et al. Management of severe thermal burns in the acute phase in adults and children. Anaesthesia Critical Care & Pain Medicine, [S. l.], v. 39, n. 2, p. 253–267, 2020. Disponível em: doi.org
PINHO, Fabiana Minati de et al. Guideline das ações no cuidado de enfermagem ao paciente adulto queimado. Rev. bras. queimaduras, [Goiânia], p. 13–23, 2016 a.