Queimadura Química

Primeiramente, é importante assegurar que o agente químico seja totalmente removido.

Agentes secos e pós devem ser removidos por varredura e, na sequência, a área queimada deve ser lavada com água até que haja alívio da dor, por tempo que pode variar de 20 a 60 minutos.

Não é indicado o uso de agentes neutralizantes, já que podem produzir a reação exotérmica, o que poderá agravar a lesão. (TEXAS EMS TRAUMA & ACUTE CARE FOUNDATION TRAUMA DIVISION, 2016; YASTI, 2015).

A Figura 16 ilustra a apresentação de queimadura por soda cáustica ainda nas primeiras horas.

Figura 16: Queimadura por soda cáustica nas primeiras horas após o trauma.

Fonte: Oger ( 2011), via wikimidia commons

Destaca-se que queimaduras por alguns agentes químicos têm particularidades quanto ao mecanismo de ação e repercussões sistêmicas, requerendo medidas específicas (Quadro 5). (CHILE, 2016; ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE, 2018).

Quadro 5: Agentes químicos quanto a mecanismo de ação, repercussão sistêmica e medidas específicas

Agente QuímicoMecanismo de AçãoRepercussão SistêmicaMedidas Específicas
Ácido Fluorídricoliquefação dos tecidos HipocalcemiaGluconato de cálcio local, subcutâneo e /ou endovenoso;
Fósforo Brancocombustão espontânea em contato com o ar.HipocalcemiaRemoção imediata;
Sulfato de cobre ou de Lâmpada Wood para auxiliar na identificação de partículas;
Fenolrápida absorção cutânea e pulmonar.disfunção cardíaca de sistema nervoso central.Neutralização com álcool etílico 30%, polietilenoglicol ou glicerol;
Irrigação da queimadura após;
Sulfeto de HidrogênioIrritação para mucosas e trato respiratório.
toxicidade para sistema nervoso central.
Depressão do sistema nervoso centralSuporte respiratório e neurológico.
Considerar o uso de hidroxicobalamina.

Adaptado de Chile (2016); ISBI Practice Guidelines Committee (2018).

A exposição a agentes químicos industriais pode induzir à lesão inalatória, sendo necessária a manutenção da permeabilidade da via aérea e a adoção de ventilação protetora, bem como a otimização da reposição volêmica, evitando sobrecarga hídrica, que pode exacerbar o edema pulmonar. Especialmente nesses casos, recomenda-se vigilância para o desenvolvimento de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) e a transferência para serviço de referência. (CANCIO et al., 2017b).

É recomendável que serviços de emergência tenham disponível documentação com os agentes químicos mais utilizados em sua região de abrangência e as respectivas condutas em casos de acidentes. (TEXAS EMS TRAUMA & ACUTE CARE FOUNDATION TRAUMA DIVISION, 2016).

Principais Cuidados de Enfermagem Sugeridos

Investigar o tipo de agente químico envolvido.

Remover o agente e lavar a área com água corrente por 20 a 60 minutos, até que haja alívio da dor.

Utilizar neutralizantes locais ou sistêmicos apenas quando indicado.

Atentar para o risco de obstrução da via aérea.

Monitorar o padrão respiratório; implementar cuidados para a prevenção de PAVM.

Monitorar resposta à reposição volêmica.

Atentar para distúrbios eletrolíticos mais comuns, como hipocalcemia com possibilidade de arritmia.

Referências

CANCIO, Leopoldo C. et al. Guidelines for Burn Care Under Austere Conditions: Special Etiologies. Journal of Burn Care & Research, [Galveston], v. 38, n. 1, p. e482–e496, 2017 b. Disponível em: doi.org

CHILE, Ministerio de Salud. Guías clínicas AUGE: gran quemado. Guías clínicas AUGE: gran quemado, [Santiago], p. 109–109, 2016.

ISBI PRACTICE GUIDELINES COMMITTEE. ISBI Practice Guidelines for Burn Care, Part 2. Burns: Journal of the International Society for Burn Injuries, [Floresville], v. 44, n. 7, p. 1617–1706, 2018. Disponível em: doi.org

OGER, Grook Da. Brulure soude caustique sur un bras. 2011. Disponível em: commons.wikimedia.org. Acesso em: 28 ago. 2020.

TEXAS EMS TRAUMA & ACUTE CARE FOUNDATION TRAUMA DIVISION. Burn Clinical Practice Guideline. Austin: [s. n.], 2016. E-book. Disponível em: tetaf.org. Acesso em: 14 jan. 2020.

YASTI, Ahmet Cınar et al. Guideline and Treatment Algorithm for Burn Injuries. Turkish Journal of Trauma and Emergency Surgery, [Istambul], 2015. Disponível em: doi.org. Acesso em 9 maio. 2020.